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Tempos Estranhos de Poeira

James Ensor, Skeletons Fighting for a Smoked Herring, 1891


Devagar e discreta, ela vem chegando,
Com seu sorriso impetuoso, vem trazendo
Minha ruína. Nefasta, não me dá escapatória,
Ela já sabe que é senhora absoluta da vitória.

Infausta e aleivosa, ela sussurra, quase que latente:
“Está chegando os seus tempos estranhos de poeira”.
Involuntariamente, meu corpo estremece... ardente.
De corpo ausente, cesso ao ver sua face zombeteira.

Sereno, consentindo a ela, eu dou um último grito.
Ele sai calado, cheio da dolência que me afronta.
Eu sou mais uma presa sua, esfinge que amedronta
Suas presas privadas de existência. Outrora, eu, aflito,

Perdia-me dentro do paradoxo do meu próprio tempo,
Que passou a ser frio e silencioso. Agora, eu, entorpecido
Entrego-me aos seus longos braços, que me deixam seduzido.
O que será do resto de minhas partículas perdidas no tempo?



Lizandra Souza.

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