Imagem da internet/Autor desconhecido.
Mendes já não
aguentava mais o latido e a bagunça do cachorro no quintal de casa. Desde que
se mudara para a casa de seu falecido tio Hermano Cururu Ramos e Remos, todos
os dias Bill, o cachorro, não queria sair do quintal, vivia cavando o chão
perto de uma mangueira e ainda não deixava os vizinhos dormirem com seus
latidos insuportáveis pela madrugada.
Já estava na hora
de Mendes tomar uma decisão, Bill sempre fora muito comportado, mas nas últimas
semanas ele estava muito bizarro. Não comia direito o que lhe era dado, quatro
vezes fugiu e mordeu três pivetes que corriam ao redor do lado de fora da casa,
outras três pulou o muro da vizinha, um dia sem querer mordeu o traseiro do
amante da mesma, roubou o pão do padeiro, o jornal do jornaleiro, o peixe do peixeiro,
a bíblia do padre Edmilson, a carne do açougueiro, o cururu da macumbeira e até
o doce da criança.
--- Assim não dá
mais Bill, até o cururu da velha bruxa é demais, e se ela joga uma mandinga em
mim, hein... Cachorro irresponsável, maluco... Gritava Mendes para o cachorro.
--- Auau, auuuu,
uoouu, auauau... E é claro que o animal só ''falava'' isso e lambia o pé do
dono.
***
Mendes atormentado
deixou mais cedo o trabalho, recebera um telefonema do vizinho dizendo que Bill
tinha roubado uma enxada do pedreiro, e que este iria lhe dar um tiro.
--- É hoje que eu
mato essa peste do mal, falava o pedreiro, que por sinal era o amante da
vizinha que ficara com profundas cicatrizes.
--- Não, senhor,
pelo amor de Deus, Bill é minha família, falava Mendes.
--- Pois trate de
me dar uma enxada nova, porque a minha ele levou e não trouxe mais.
--- Sim senhor, em
menos de dois dias lhe trago a melhor cavadeira da cidade.
***
Dois dias depois
do acontecido, Mendes tem uma surpresa, a antiga enxada do pedreiro estava
escondida na parte de trás da cisterna de sua casa, no fundo do quintal. Ele
então olhou para Bill e viu o cachorro tentando cavar um buraco com as patas
debaixo da mangueira.
--- Então foi por
isso que você furtou esta enxada, não... Mendes acreditava na inteligência dos
animais.
--- Uau aua
uauauauauu Uou, respondeu o cachorro, como sempre.
--- Ah danado, vou
te ajudar a cavar.
Mendes passou a
manhã de folga cavando o chão, e logo no início teve uma surpresa,
ele achara um lindo anel, ficou tão feliz pensando que ali, bem nos fundos de
sua casa, pudesse haver um tesouro que continuou cavando com o cachorro. Depois
de duas horas Mendes quase morre do coração, é que ele havia desenterrado um
cadáver, que pela decomposição ainda inicial dava para ver que era de uma
mulher.
Ele quase desmaiou
três vezes, o animal lambeu seu rosto e ele começou a chorar, berrar, gritar,
só faltava dá coices e relinchos, e isso não por ter reconhecido que aquele
anel era de sua tia Ambrosilda, mas porque o outro anel que acabara de achar
ainda estava no dedo do cadáver que era de tia Ambrosilda.
Depois de um longo
estado de torpor, Mendes ainda não sabia o que fazer. Já eram sete horas, a
hora do jantar. Ele decidiu entrar com Bill para dentro de casa e comer algo,
de barriga cheia as soluções viriam, pensou. Foi uma cena muito bizarra, Bill,
Mendes e o cadáver de tia ambrosilda sentados à mesa. Mendes achava uma
desfeita deixar sua ilustre tia no relento do quintal imundo onde o frio
poderia ressuscitar-lhe. Porém aquele terrível odor que vinha de sua tia não o
deixava comer em paz, ela fedia muito, muito e muito mau mesmo.
Mendes com todo
cavalheirismo, deixou titia “Ambrô” na cozinha e levou o infeliz do cachorro já
inconsciente para comerem trancados no quarto. Bastou Bill se afastar da
catinga de titia que o bichinho acordou do entorpecimento físico e mental.
***
Dez horas deram e
Mendes não sabia o que fazer com a defunta. Ele pensou em várias maneiras
ardilosas de se livrar de titia, porém todas terminavam mal. Se ele tentasse
cavar titia de novo seria uma blasfêmia contra o amor familiar e ele não queria
um cadáver no quintal de casa. Se ele chamasse a polícia iriam prendê-lo e ele
veria o sol nascer quadrado, ninguém acreditaria na história. E se ele deixasse
tia Ambrosilda em casa, num quartinho dos fundos, ninguém nunca a descobriria,
mas só em pensar nisso o cachorro desmaiou de medo.
--- Calma! Acorda
Bill, foi só uma ideia, também sofro com o fedor de titia.
--- Auau!?
--- Ora, vamos
precisar dá uns trinta banhos em titia, mas é uma boa ideia.
Mendes já tinha
chegado ao auge da demência, ele acreditou ter falado com o cachorro e que este
tinha lhe dado a solução. Mendes com a ajuda do cachorro alienado conseguiu,
não se sabe como, colocar tia Ambrosilda numa banheira. Mendes estava morrendo
de vergonha em ter que terminar de despir os trajes acabados de titia, mas era
a única solução.
O cadáver estava
em horrível estado de decomposição, molhado e cheio de espumas então, era o
demônio de feio, se é que ele é monstruoso assim.
--- Até que não está
tão mal hein?
--- Hooll!
O animal homem e o
animal cachorro deixaram o corpo da defunta três dias seguidos dentro da
banheira com todos os perfumes, sais minerais e cosméticos da casa. Mendes já
não sentia tanto o odor perturbador de sua tia. Ele decidiu nunca mais ir
aquele banheiro e assim deixar titia tomando banho para sempre.
O cachorro não
aceitou, ele se apegara profundamente a titia e não saía do banheiro. O
estranho é que ele latia igualzinho quando estava no quintal, tentando tirar
titia cavada do chão. Mendes não ligou, era a amizade. Três semanas se passaram
e Mendes resolveu trocar os perfumes de titia, Bill escolheu seu preferido.
***
Dois meses mais
tarde, Mendes enlouqueceu mais ainda. Ele resolvera colecionar defuntos. Então
começou a cavar os fundos do quintal e achou três cadáveres. Um era de uma
prima distante, e os outros dois ele não conhecia, só sabia que eram de
homens. Colocou todos os defuntos juntos com titia no banheiro que logo
ele mandaria aumentar.
Após escavacar
tudo que era chão no quintal ele resolveu cavar dentro de casa, porém, só achou
um esqueleto velho de cachorro, o que Bill adorou, o cão já era demente. Ele
então correu ao extremo. Iria roubar os defuntos da funerária onde trabalhava,
afinal para que a família do morto gastaria dinheiro com caixão, podendo ter
seu ente querido ''numa bela casa com muitos amigos''?.
Começou a
desaparecer os defuntos da funerária, foi o maior escândalo que aquela cidade
já teve, foi preciso à prefeitura junto com a funerária “Seu defunto Seguro em
Primeiro Plano” pagarem uma indenização para as famílias donas dos cadáveres,
para abafar o caso. A funerária acabou falindo e sendo fechada, todos os
empregados perderam o emprego, inclusive nosso alienado.
Mendes estava
frustrado, ele já tinha noventa e nove cadáveres, só faltava um para terminar
sua primeira coleção. Bill também não ficava por trás do dono, parecia que o
cachorro queria a todo custo ter mais um defunto em casa. Chegou ao ponto
crucial em que Mendes e Bill queriam se ver pelas costas, um armando para cima
do outro, esperando um único momento para dá o bote mortal no companheiro.
Mendes tinha sido
vencido pelo sono e acabou dormindo. Bill, ardiloso como sempre, foi para cima
do dono. Foi assim, homem e cachorro, rolando no chão, uma algazarra, um
barulho horrendo, homem e animal medindo forças, tudo para completar uma
coleção de defuntos, um mordendo o outro, Bill pregava os dentes na orelha de
Mendes, este puxava seu rabo a dentadas até que o arrancou.
--- Auuuuuuuuuuuu!
: (
--- Oh, Brutus
amigo meu, o que me fizeste fazer.
--- Auuuuuuuuuuuu!
--- Não chore,
querido, vou lhe fazer um curativo... Ei não me olhe assim, não vou ser traíra
igual a você, antes de você pular em cima de mim, eu tive um sonho e através
dele já sei como arrumar mais um defunto sem ser um de nós dois, amigo.
--- Auau Hooouuu.
O cachorro latia entusiasmado, nem sentia mais a dor que fazia a falta de um
rabo.
--- Amanhã de
madrugada irei pular o quintal de dona Serafina, cavar bem muito até achar um
cadáver, ok.
--- Auauau!
--- Sei que é
ótima ideia, agora vamos dormir, que o dia promete.
Como fazia tempo
que eles não dormiam com medo um do outro, aproveitaram a trégua e adormeceram
até a madrugada do dia seguinte. Quando deu uma hora e quarenta minutos os
alienados se prepararam para executar a façanha. Bill foi o primeiro a pular o
muro, depois da segunda tentativa Mendes conseguiu. Fizeram pouco barulho,
ninguém notara suas presenças.
Começaram a cavar,
passaram duas horas cavando até que o cachorro desenterrou o pedaço de alguma
coisa familiar.
--- Auau.
--- Xiiiiii,
silêncio, podem nos ouvir.
Era um cadáver em
perfeito estado. Mendes reconheceu, era a sombrinha desaparecida de dona
Serafina. Ele abraçou o cachorro, sua coleção estava completa, agora eles
poderiam colecionar coisas mais específicas como crânios, pés, cabelos entre
outros. Porém algo inesperado aconteceu. O pedreiro amante da vizinha estava
pulando o muro quando viu um vulto e deu um grito, cara frouxo.
Serafina veio ao
quintal e viu na hora em que um homem pulou de seu muro para o quintal de
Mendes, porém este tão alienado não notou ter sido percebido. Serafina e o
amante chamaram a polícia. Enquanto isso na casa vizinha, Bill e Mendes
realizavam seu sonho. A coleção estava completa, tinha cem cadáveres. Oh
felicidade a deles, se abraçando, chorando, um latia e o outro também, por
incrível que pareça.
Enfileiraram todos
os defuntos, que ocuparam todo o espaço do quarto e banheiro. Dezenas sobre a
cama, mais dezenas no chão, mais dezenas no banheiro e várias unidades no teto,
parecia um necrotério de cabeças para o ar. Era defunto para tudo que é canto.
Mendes resolveu comemorar, ligou o rádio e colocou sua música preferida, o
dia dos mortos, ah, como ele e Bill estavam contentes.
Uma hora depois,
alguém bateu na porta, ele disse que não receberia ninguém naquele dia, fosse
quem fosse.
--- Meu senhor,
mas é a polícia.
--- Estou nem aí,
vá cuidar da sua vida seu infeliz.
--- Isso é
desacato, abra a porta, sabia que pularam seu quintal esta madrugada?!
--- E daí, cuide
de sua vida seu enxerido, hoje é meu dia e de Bill, não falaremos com ninguém.
A polícia
preocupada que o dono da casa estivesse sob a ameaça do bandido resolveu
arrombar a porta e entrara. Mendes não teve tempo de impedir a entrada dos policiais,
Bill gritou e também não pode impedir.
--- Que odor é
esse? falava um guarda.
--- Isso é invasão
de domicílio, vou chamar a polícia, falava Mendes, desesperado.
--- Nós somos a
polícia, chefe Pererão faça a vista na casa, acho que encontramos o meliante
que assaltou a casa de dona Serafina.
--- Mas não
levaram nada, replicou a velha.
--- Mesmo assim,
foi tentativa... E que odor horrendo é esse vindo daquele quarto?
Mendes ficou
desesperado, gritava, dizia que ninguém tinha o direito de invadir sua casa,
que chamaria outra polícia para prender a polícia. O Policial chefe vendo o
desespero do homem mandou que o segurassem, Mendes tentou fugir, mas foi pego.
O guarda mandado pelo policial foi em direção ao quarto para ver o porquê de lá
sair tanto odor, na verdade todos estavam curiosos para saber o segredo de
Mendes.
Enquanto isso, o
cachorro estava atordoado, tentava impedir a entrada do guarda no quarto de
qualquer jeito, ameaçou mordê-lo, o mordeu e mesmo assim não deu em nada,
latiu, não deu em nada, escondeu a chave debaixo do rabo, mas como não tinha
rabo não deu em nada, por fim dançou e cantou “Velha infância”, mas também não
deu em nada.
O guarda abriu a
porta do quarto e todos se aproximaram. Foi então um choque, um horror, um
pavor, um terror e tudo que rimar com estas terminações assombrosas. Aquilo
deixou todos perplexos, no quarto havia incontáveis cadáveres. De repente o
corpo da sobrinha de dona Serafina caiu justo em cima da tia, que desmaiou na
hora. Foram no banheiro e lá estava lotado de defuntos, um defunto, porém, se
sobressaia entre todos, era o de titia Ambrosilda, sentado no vaso sanitário.
Mendes e Bill estavam horrorizados, eles nunca colocaram titia nessa posição.
--- Uma morta já
não pode mais fazer suas necessidades fisiológicas em paz hein... Reclamava
titia Ambrosilda, piscando o resto do único olho para o sobrinho e o cachorro
amigo.
--- Oh, cruzes,
ave, bicho do mal, coisa ruim, demônio...! Exclamavam.
E todos, sem
exceção, saíram correndo assombrados da casa de Mendes, inclusive o próprio
Mendes e o cachorro, todos correram tanto que quase criaram asas e dizem que
até hoje ainda correm.
Mendes já não
aguentava mais o latido e a bagunça do cachorro no quintal de casa. Desde que
se mudara para a casa de seu falecido tio Hermano Cururu Ramos e Remos, todos
os dias Bill, o cachorro, não queria sair do quintal, vivia cavando o chão
perto de uma mangueira e ainda não deixava os vizinhos dormirem com seus
latidos insuportáveis pela madrugada.
Já estava na hora
de Mendes tomar uma decisão, Bill sempre fora muito comportado, mas nas últimas
semanas ele estava muito bizarro. Não comia direito o que lhe era dado, quatro
vezes fugiu e mordeu três pivetes que corriam ao redor do lado de fora da casa,
outras três pulou o muro da vizinha, um dia sem querer mordeu o traseiro do
amante da mesma, roubou o pão do padeiro, o jornal do jornaleiro, o peixe do peixeiro,
a bíblia do padre Edmilson, a carne do açougueiro, o cururu da macumbeira e até
o doce da criança.
--- Assim não dá
mais Bill, até o cururu da velha bruxa é demais, e se ela joga uma mandinga em
mim, hein... Cachorro irresponsável, maluco... Gritava Mendes para o cachorro.
--- Auau, auuuu,
uoouu, auauau... E é claro que o animal só ''falava'' isso e lambia o pé do
dono.
***
Mendes atormentado
deixou mais cedo o trabalho, recebera um telefonema do vizinho dizendo que Bill
tinha roubado uma enxada do pedreiro, e que este iria lhe dar um tiro.
--- É hoje que eu
mato essa peste do mal, falava o pedreiro, que por sinal era o amante da
vizinha que ficara com profundas cicatrizes.
--- Não, senhor,
pelo amor de Deus, Bill é minha família, falava Mendes.
--- Pois trate de
me dar uma enxada nova, porque a minha ele levou e não trouxe mais.
--- Sim senhor, em
menos de dois dias lhe trago a melhor cavadeira da cidade.
***
Dois dias depois
do acontecido, Mendes tem uma surpresa, a antiga enxada do pedreiro estava
escondida na parte de trás da cisterna de sua casa, no fundo do quintal. Ele
então olhou para Bill e viu o cachorro tentando cavar um buraco com as patas
debaixo da mangueira.
--- Então foi por
isso que você furtou esta enxada, não... Mendes acreditava na inteligência dos
animais.
--- Uau aua
uauauauauu Uou, respondeu o cachorro, como sempre.
--- Ah danado, vou
te ajudar a cavar.
Mendes passou a
manhã de folga cavando o chão, e logo no início teve uma surpresa,
ele achara um lindo anel, ficou tão feliz pensando que ali, bem nos fundos de
sua casa, pudesse haver um tesouro que continuou cavando com o cachorro. Depois
de duas horas Mendes quase morre do coração, é que ele havia desenterrado um
cadáver, que pela decomposição ainda inicial dava para ver que era de uma
mulher.
Ele quase desmaiou
três vezes, o animal lambeu seu rosto e ele começou a chorar, berrar, gritar,
só faltava dá coices e relinchos, e isso não por ter reconhecido que aquele
anel era de sua tia Ambrosilda, mas porque o outro anel que acabara de achar
ainda estava no dedo do cadáver que era de tia Ambrosilda.
Depois de um longo
estado de torpor, Mendes ainda não sabia o que fazer. Já eram sete horas, a
hora do jantar. Ele decidiu entrar com Bill para dentro de casa e comer algo,
de barriga cheia as soluções viriam, pensou. Foi uma cena muito bizarra, Bill,
Mendes e o cadáver de tia ambrosilda sentados à mesa. Mendes achava uma
desfeita deixar sua ilustre tia no relento do quintal imundo onde o frio
poderia ressuscitar-lhe. Porém aquele terrível odor que vinha de sua tia não o
deixava comer em paz, ela fedia muito, muito e muito mau mesmo.
Mendes com todo
cavalheirismo, deixou titia “Ambrô” na cozinha e levou o infeliz do cachorro já
inconsciente para comerem trancados no quarto. Bastou Bill se afastar da
catinga de titia que o bichinho acordou do entorpecimento físico e mental.
***
Dez horas depois e
Mendes não sabia o que fazer com a defunta. Ele pensou em várias maneiras
ardilosas de se livrar de titia, porém todas terminavam mal. Se ele tentasse
cavar titia de novo seria uma blasfêmia contra o amor familiar e ele não queria
um cadáver no quintal de casa. Se ele chamasse a polícia iriam prendê-lo e ele
veria o sol nascer quadrado, ninguém acreditaria na história. E se ele deixasse
tia Ambrosilda em casa, num quartinho dos fundos, ninguém nunca a descobriria,
mas só em pensar nisso o cachorro desmaiou de medo.
--- Calma! Acorda
Bill, foi só uma ideia, também sofro com o fedor de titia.
--- Auau!?
--- Ora, vamos
precisar dá uns trinta banhos em titia, mas é uma boa ideia.
Mendes já tinha
chegado ao auge da demência, ele acreditou ter falado com o cachorro e que este
tinha lhe dado a solução. Mendes com a ajuda do cachorro alienado conseguiu,
não se sabe como, colocar tia Ambrosilda numa banheira. Mendes estava morrendo
de vergonha em ter que terminar de despir os trajes acabados de titia, mas era
a única solução.
O cadáver estava
em horrível estado de decomposição, molhado e cheio de espumas então, era o
demônio de feio, se é que ele é monstruoso assim.
--- Até que não está
tão mal hein?
--- Hooll!
O animal homem e o
animal cachorro deixaram o corpo da defunta três dias seguidos dentro da
banheira com todos os perfumes, sais minerais e cosméticos da casa. Mendes já
não sentia tanto o odor perturbador de sua tia. Ele decidiu nunca mais ir
aquele banheiro e assim deixar titia tomando banho para sempre.
O cachorro não
aceitou, ele se apegara profundamente a titia e não saía do banheiro. O
estranho é que ele latia igualzinho quando estava no quintal, tentando tirar
titia cavada do chão. Mendes não ligou, era a amizade. Três semanas se passaram
e Mendes resolveu trocar os perfumes de titia, Bill escolheu seu preferido.
***
Dois meses mais
tarde, Mendes enlouqueceu mais ainda. Ele resolvera colecionar defuntos. Então
começou a cavar os fundos do quintal e achou três cadáveres. Um era de uma
prima distante, e os outros dois ele não conhecia, só sabia que eram de
homens. Colocou todos os defuntos juntos com titia no banheiro que logo
ele mandaria aumentar.
Após escavacar
tudo que era chão no quintal ele resolveu cavar dentro de casa, porém, só achou
um esqueleto velho de cachorro, o que Bill adorou, o cão já era demente. Ele
então correu ao extremo. Iria roubar os defuntos da funerária onde trabalhava,
afinal para que a família do morto gastaria dinheiro com caixão, podendo ter
seu ente querido ''numa bela casa com muitos amigos''?.
Começou a
desaparecer os defuntos da funerária, foi o maior escândalo que aquela cidade
já teve, foi preciso à prefeitura junto com a funerária “Seu defunto Seguro em
Primeiro Plano” pagarem uma indenização para as famílias donas dos cadáveres,
para abafar o caso. A funerária acabou falindo e sendo fechada, todos os
empregados perderam o emprego, inclusive nosso alienado.
Mendes estava
frustrado, ele já tinha noventa e nove cadáveres, só faltava um para terminar
sua primeira coleção. Bill também não ficava por trás do dono, parecia que o
cachorro queria a todo custo ter mais um defunto em casa. Chegou ao ponto
crucial em que Mendes e Bill queriam se ver pelas costas, um armando para cima
do outro, esperando um único momento para dá o bote mortal no companheiro.
Mendes tinha sido
vencido pelo sono e acabou dormindo. Bill, ardiloso como sempre, foi para cima
do dono. Foi assim, homem e cachorro, rolando no chão, uma algazarra, um
barulho horrendo, homem e animal medindo forças, tudo para completar uma
coleção de defuntos, um mordendo o outro, Bill pregava os dentes na orelha de
Mendes, este puxava seu rabo a dentadas até que o arrancou.
--- Auuuuuuuuuuuu!
: (
--- Oh, Brutus
amigo meu, o que me fizeste fazer.
--- Auuuuuuuuuuuu!
--- Não chore,
querido, vou lhe fazer um curativo... Ei não me olhe assim, não vou ser traíra
igual a você, antes de você pular em cima de mim, eu tive um sonho e através
dele já sei como arrumar mais um defunto sem ser um de nós dois, amigo.
--- Auau Hooouuu.
O cachorro latia entusiasmado, nem sentia mais a dor que fazia a falta de um
rabo.
--- Amanhã de
madrugada irei pular o quintal de dona Serafina, cavar bem muito até achar um
cadáver, ok.
--- Auauau!
--- Sei que é
ótima ideia, agora vamos dormir, que o dia promete.
Como fazia tempo
que eles não dormiam com medo um do outro, aproveitaram a trégua e adormeceram
até a madrugada do dia seguinte. Quando deu uma hora e quarenta minutos os
alienados se prepararam para executar a façanha. Bill foi o primeiro a pular o
muro, depois da segunda tentativa Mendes conseguiu. Fizeram pouco barulho,
ninguém notara suas presenças.
Começaram a cavar,
passaram duas horas cavando até que o cachorro desenterrou o pedaço de alguma
coisa familiar.
--- Auau.
--- Xiiiiii,
silêncio, podem nos ouvir.
Era um cadáver em
perfeito estado. Mendes reconheceu, era a sombrinha desaparecida de dona
Serafina. Ele abraçou o cachorro, sua coleção estava completa, agora eles
poderiam colecionar coisas mais específicas como crânios, pés, cabelos entre
outros. Porém algo inesperado aconteceu. O pedreiro amante da vizinha estava
pulando o muro quando viu um vulto e deu um grito, cara frouxo.
Serafina veio ao
quintal e viu na hora em que um homem pulou de seu muro para o quintal de
Mendes, porém este tão alienado não notou ter sido percebido. Serafina e o
amante chamaram a polícia. Enquanto isso na casa vizinha, Bill e Mendes
realizavam seu sonho. A coleção estava completa, tinha cem cadáveres. Oh
felicidade a deles, se abraçando, chorando, um latia e o outro também, por
incrível que pareça.
Enfileiraram todos
os defuntos, que ocuparam todo o espaço do quarto e banheiro. Dezenas sobre a
cama, mais dezenas no chão, mais dezenas no banheiro e várias unidades no teto,
parecia um necrotério de cabeças para o ar. Era defunto para tudo que é canto.
Mendes resolveu comemorar, ligou o rádio e colocou sua música preferida, o
dia dos mortos, ah, como ele e Bill estavam contentes.
Uma hora depois,
alguém bateu na porta, ele disse que não receberia ninguém naquele dia, fosse
quem fosse.
--- Meu senhor,
mas é a polícia.
--- Estou nem aí,
vá cuidar da sua vida seu infeliz.
--- Isso é
desacato, abra a porta, sabia que pularam seu quintal esta madrugada?!
--- E daí, cuide
de sua vida seu enxerido, hoje é meu dia e de Bill, não falaremos com ninguém.
A polícia
preocupada que o dono da casa estivesse sob a ameaça do bandido resolveu
arrombar a porta e entrara. Mendes não teve tempo de impedir a entrada dos policiais,
Bill gritou e também não pode impedir.
--- Que odor é
esse? falava um guarda.
--- Isso é invasão
de domicílio, vou chamar a polícia, falava Mendes, desesperado.
--- Nós somos a
polícia, chefe Pererão faça a vista na casa, acho que encontramos o meliante
que assaltou a casa de dona Serafina.
--- Mas não
levaram nada, replicou a velha.
--- Mesmo assim,
foi tentativa... E que odor horrendo é esse vindo daquele quarto?
Mendes ficou
desesperado, gritava, dizia que ninguém tinha o direito de invadir sua casa,
que chamaria outra polícia para prender a polícia. O Policial chefe vendo o
desespero do homem mandou que o segurassem, Mendes tentou fugir, mas foi pego.
O guarda mandado pelo policial foi em direção ao quarto para ver o porquê de lá
sair tanto odor, na verdade todos estavam curiosos para saber o segredo de
Mendes.
Enquanto isso, o
cachorro estava atordoado, tentava impedir a entrada do guarda no quarto de
qualquer jeito, ameaçou mordê-lo, o mordeu e mesmo assim não deu em nada,
latiu, não deu em nada, escondeu a chave debaixo do rabo, mas como não tinha
rabo não deu em nada, por fim dançou e cantou “Velha infância”, mas também não
deu em nada.
O guarda abriu a
porta do quarto e todos se aproximaram. Foi então um choque, um horror, um
pavor, um terror e tudo que rimar com estas terminações assombrosas. Aquilo
deixou todos perplexos, no quarto havia incontáveis cadáveres. De repente o
corpo da sobrinha de dona Serafina caiu justo em cima da tia, que desmaiou na
hora. Foram no banheiro e lá estava lotado de defuntos, um defunto, porém, se
sobressaia entre todos, era o de titia Ambrosilda, sentado no vaso sanitário.
Mendes e Bill estavam horrorizados, eles nunca colocaram titia nessa posição.
--- Uma morta já
não pode mais fazer suas necessidades fisiológicas em paz hein... Reclamava
titia Ambrosilda, piscando o resto do único olho para o sobrinho e o cachorro
amigo.
--- Oh, cruzes,
ave, bicho do mal, coisa ruim, demônio...! Exclamavam.
E todos, sem
exceção, saíram correndo assombrados da casa de Mendes, inclusive o próprio
Mendes e o cachorro, todos correram tanto que quase criaram asas e dizem que
até hoje ainda correm.
Lizandra Souza.
Olá Lizandra! Adorei o texto, super divertido!
ResponderExcluirAbraços, Isabela.
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