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Feliz aniversário!

Imagem da internet/Autor desconhecido.

Clarice dirigia muito rápido, acima do indicado. Sempre teve cuidado no trânsito, era a motorista mais prudente que conhecia, mas precisava chegar logo em casa, era o aniversário do filho mais novo, que acabara de completar sete anos. Ela precisava dessa exceção, justificava mentalmente para si mesma, enquanto infringia alguns sinais… Tinha pressa, não podia decepcionar o filho... Era o seu preferido. Tanto trabalho no shopping, mais cedo, para escolher o presente perfeito, e agora isso, o atraso… Ela estava deveras chateada.

Dane-se, pensou. O sinal fechou e mesmo assim Clarice continuou em movimento, ultrapassando desenfreadamente os carros que estavam à sua frente. Ela pensava no filho, na festa, no atraso, nos convidados, na desculpa que daria… e acelerava cada vez mais. De repente, o celular tocou, era a notificação de uma mensagem do marido, que, preocupado, perguntava por que a mulher ainda não tinha chegado. O filho já estava aos prantos, coitadinho.

Clarice não pensou duas vezes, acelerou o máximo que pode, ultrapassou novamente o sinal, nervosa, quase bateu em um motociclista, desviou, mas acabou perdendo o controle do carro, indo para cima da calçada e atropelando uma criança. No mesmo instante só se ouviam gritos de dor e pedidos de socorro. Clarice olhou pelo vidro do carro a cena mais angustiante de sua vida.

Desesperada por ter cometido um crime, ela fugiu sem prestar socorro à vítima. Quase chegando em casa, ela ficou pensando na criança que provavelmente tinha morrido. Seus olhos se encheram de lágrimas. Já na festa, deu um abraço forte no filho. Na hora de cantar parabéns, não conteve as lágrimas de remorso: só conseguia pensar na menininha de talvez quatro ou cinco anos, morta por ela, ensanguentada no chão, a mãe aos prantos pedindo ajuda, as pessoas se aproximando, o braço da menina arrancado brutalmente, os gritos de desespero. Clarice se sentia deprimida.

O marido perguntou o que havia acontecido. Antes que ela pudesse pensar em mentir, a resposta verdadeira veio à tona: a polícia chegou à festa e estava sendo conduzida por uma empregada da casa. Clarice ficou desesperada, a tinham descoberto e tudo por descuido seu: ela não havia percebido, mas chegou em casa com o carro, o presente e um pequeno braço de criança enganchado no veículo.

Um dos convidados viu uma notícia na internet sobre a morte trágica de uma menininha, filha de um gari, que tinha sido atropelada na calçada próxima a uma padaria local e que o culpado tinha fugido sem prestar socorro à vítima e, ainda, com o bracinho da criança nas partes do carro. Clarice foi presa, mas solta algum tempo depois. Sete meses se passaram e ela morreu em uma batida de carro contra um caminhão desgovernado. O caminhoneiro disse que estava com pressa para concluir o serviço e chegar em casa, era dia dos namorados.


Lizandra Souza.

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