Pular para o conteúdo principal

O mistério da casa mal-assombrada

Imagem da internet/Autor desconhecido.

Querido diário…


13.10.1999

Ontem eu não consegui dormir. E antes de ontem também. Estou enlouquecendo! Desde que me mudei para a minha nova casa, há três dias, eu escuto gritos de mulher e barulhos estranhos todas as noites. Acho que é alguém querendo me assustar. É insuportável, toda noite é a mesma coisa: "Maldita! Saia daqui, intrusa! Você irá se arrepender se não sair da minha casa... vá embora ou eu vou levá-la...".


(...)


17.10.1999

Adélia. Esse é o nome da mulher que todas as noites tira o meu sossego e o meu sono. Uma desgraçada que quer me assustar para se vingar de mim, por eu ter ficado com essa casa. Há uns dias soube que ela também estava interessada no imóvel, mas o antigo proprietário me deu a preferência pela compra. Adélia, despeitada, teve que comprar a casinha que fica nos fundos da minha.


18.10.1999

Que ódio! Estava no banheiro tomando banho, quando a luz se apagou e no mesmo instante escutei risadas horripilantes. Enrolei-me com uma toalha e saí do banheiro, chegando ao corredor da cozinha escutei pisadas e perguntei: "Quem está aí?". De repente, a porta da cozinha, que fica no fundo da casa, se abriu sozinha, deixando entrar uma rajada forte de vento. Gritei desesperada e como retorno obtive mais uma risada sinistra. Só podia ser Adélia querendo me assustar. Fui rapidamente até o quintal, olhei em direção a casa dela, estava fechada, todas as luzes pareciam estar apagadas, mas eu sabia que isso era coisa dela.


19.10.1999

Chega! Não aguento mais essa situação. Pela manhã, decidi procurar Adélia para dizê-la que eu não tenho medo de nada e que eu iria matá-la se ela continuasse a me atormentar. Ela me chamou de louca e disse que não era de fazer essas coisas: "Eu nunca faria isso... aliás, ontem nem dormi em casa, louca!". Mas eu insisti: "Você não me engana. Falsa! Invejosa! Você está com raiva porque o antigo dono preferiu vender a casa para mim e não para você". Ela gritou: "Você é uma oferecida, sei que saiu uma noite dessas com ele...". Agora é que eu fiquei mesmo com raiva, como ela era capaz de tal calúnia? Eu tenho que me vingar, pensei. 


20.10.1999

Ontem pela madrugada senti sede e fui tomar água. Não tinha na geladeira, resolvi tomar água da pia, quando abri a torneira ao invés de água saiu um líquido vermelho, cheirei e parecia sangue, tomei um susto e saí correndo para o meu quarto. Não sei como consegui dormir, mas dormi. 

Pela manhã, me convenci de que tudo não passara de um pesadelo, pois a água estava normal. Até cogitei brevemente a possibilidade de minha querida inimiga ter algo a ver com isso, mas deixei de lado a hipótese, como seria possível?


21.10.1999

Minha panela de pressão explodiu.


22.10.1999

Minhas plantas morreram. 


23.10.1999

Acho que estou me acostumando aos acontecimentos. Já não me importo com as vozes, barulhos estranhos…


(...)


30.10.1999

Acordei com um sussurro: "Você irá morrer amanhã, depois de tudo o que eu fiz para você abandonar o meu túmulo, você insiste em continuar aqui... Você vai morrer, incrédula desgraçada, você terá até amanhã para sair daqui ou este será o lugar de sua morte e permanência eterna".

Fiquei perplexa, Adélia queria me assassinar, mas isso não iria ficar assim, pois eu a mataria primeiro. Só havia um problema, eu tinha menos de vinte e quatro horas para planejar o crime perfeito e executá-lo. 


31.10.1999

Olhei o relógio: quase seis horas. Ela deve estar desprevenida pensando que estou arrumando as coisas para a mudança. Coitada! Nem imagina que esse será o seu fim.

Fui à cozinha, abri a porta dos fundos, dava para ver direitinho a casa de Adélia. Fui até lá, bati na porta com força: “Apareça se for mulher!”. Antes de abrir, ela perguntou: "Quem é?". Continuei a bater: "Covarde, sou eu.". Quando eu vi que ela ia abrir a porta, saí correndo em direção a minha casa. Ela saiu e veio atrás de mim, reclamando que estava muito cedo para eu já estar a incomodando... Cretina!

Deixei a porta aberta, quando Adélia entrou, eu acertei em cheio o seu pescoço com uma foice de mão. Insisti em mais alguns golpes quando ela caiu no chão. Não precisei de muito esforço para separar a cabeça do restante do corpo. A cozinha estava toda suja de sangue, o que me causou muito nojo. Olhei para o corpo mutilado e comecei a rir. Eu estava completamente feliz, tinha acabado com o meu tormento e agora poderia dormir e viver em paz. 

Quando eu estava prestes a começar a limpar a cozinha, uma voz agonizante falou: "Sua burra cética, matou a pessoa errada, Adélia nunca lhe fez nada, assassina desalmada, você matou uma inocente! Você está condenada a viver em tormento!". Não pode ser, ou eu estava louca ou existia um fantasma em minha casa? Fiquei transtornada. "Você irá me pagar, seu fantasma insolente, não tenho medo de você, venha aqui, apareça, dê as caras!", gritei freneticamente. A voz falou: "Estou em outro mundo, minha matéria não pode aparecer fisicamente, mas meu espírito irá lhe atormentar para sempre". "Ah... não vai não", gritei.

Em um excesso de excitação e loucura, eu coloquei fogo na casa comigo dentro. "Eu é que vou atrás de você aí no outro mundo... Não tenho medo... sua vadia desgraçada...". E foi assim que eu morri queimada e estou agora do outro lado da existência com Adélia e a vaca sobrenatural que me perturbava, discutindo nosso drama existencial.


Lizandra Souza.

Comentários

  1. ai que medo,amei o conto,fi ou perfeito.
    beijos

    ResponderExcluir
  2. Aterrorizante mais muito criativo.
    Me fez lembrar sobre as conclusões existencialistas de Sartre!
    Beijos

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Obrigada por comentar.