A empregada havia sido demitida há três
semanas, a casa de cinco cômodos, apesar de pequena, estava uma bagunça.
João Paulo não sabia por onde começar a
limpeza e arrumação da casa, nunca tivera habilidades domésticas, e nem fora
ensinado a ter, seu pai nunca permitira Dona Etelvina, sua mãe, ensinar-lhe a
fazer nem um ovo frito, e por causa desse machismo paternal, João Paulo se
encontra em apuros. “Sem dinheiro, sem emprego, sem mulher e sem empregada, ah,
vida cruel... Um cachorro vira-lata é mais feliz” pensava J.P.
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Resolveu inicialmente arrumar seu quarto.
Livros no chão, roupas sujas na cômoda, sapatos espalhados na porta do
banheiro... Farelos de comida na cama... Uma desordem.
J.P. já estava terminando de arrumar o
quarto, isso depois de duas horas e meia, faltava apenas pôr os livros na
estante e limpar o chão. “Ah, meus livrinhos nesse chão imundo... não pode
ser... droga!”. Gritou quando viu que entre os livros que estavam no chão sujo,
estava seu preferido, que já tinha lido e relido inúmeras vezes, um exemplar de
“A Paixão Segundo G.H.” de sua escritora preferida, Clarice Lispector.
“Oh, o que mais pode me acontecer, comer
uma barata?... é isso o que a vida me reserva!”. Seus olhos se encheram de
lágrimas e dentro de poucos segundos J.P. começou a chorar desesperadamente. “O
que meu pai pensaria se me visse assim, chorando, sua caveira deve estar se
remoendo no túmulo”. E chorava mais ainda só de pensar na caveira de seu pai.
J.P. parou de chorar depois de muitas
horas, chorou tanto que seus olhos incharam. Acabou desistindo de arrumar a
casa naquele dia, já estava tarde, e ele precisava fazer algo para comer, a
choradeira deu-lhe muita fome.
Depois que a empregada foi despedida, J.P
passou a fazer suas refeições fora de casa, porém recebeu um duro golpe do
destino, perdera o emprego nesta manhã. Hoje, pela primeira vez, teria que
fazer sua própria comida.
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Ao chegar à cozinha teve um susto.
“Que bagunça meu Deus. Nunca vou conseguir
limpar isso” pensou, e quase começou a chorar de novo... Só não chorou porque
estava com muita fome. Resolveu fazer galinha cozida com batatas, mas não tinha
batatas na geladeira e ele não sabia preparar uma galinha para cozinhar... Teve
a ideia de fazer peixe frito, mas não sabia como prepará-lo... “Ovos” pensou
J.P, mas logo desistiu, pois lembrou que não sabia fritá-los ou cozê-los.
Depois de alguns minutos, J.P. se deu
conta de que o problema não era suas ideais ou as batatas que faltavam, mas sua
inexperiência na cozinha. Ele começou a chorar quando viu que não iria comer
nada, pois não sabia fazer nada.
Não podia nem pedir uma pizza, o dinheiro
que tinha em casa era pouco, mal daria para suas despesas do dia de amanhã.
Resolveu beber um resto de café e assistir televisão. Mas não conseguiu se
distrair, muito menos se esquecer da fome. Fechou a televisão, pegou um livro e
foi ler.
Logo viu que se identificava com a
personagem, pelo seu drama existencial e pela ausência da empregada.
“Mas você é muito melhor que eu G.H, você
questiona, eu reclamo, você procura conhecer o desconhecido, conhecer a si
própria, e eu não procuro conhecer nem o conhecido...”. Pensando em sua
fraqueza de espírito J.P. voltou a chorar.
De repente uma luz passou por seus olhos.
Uma luz não, uma barata, uma grande barata. J.P logo pensou que fosse um sinal
da “natureza”, um aviso... Uma oportunidade de mudar seu conhecimento e sua
vida. O Infeliz relacionava a barata em sua casa á barata do livro, a que G.H
experimentou na busca de conhecer sua identidade. J.P nem por um minuto
lembrou-se de que sua casa estava suja, e que é comum encontrar esses insetos
em locais em estados assim.
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O homem largou o livro no sofá e saiu
correndo para a cozinha, seguindo a ligeira barata. Depois a barata voou da
janela da cozinha para o quintal, e mais uma vez ele a seguiu.
“Essa barata vai ajudar-me a descobrir o
sentido de minha existência... qual será minha identidade? O que é a vida? O
que eu posso entender? O que significa entender?...”, pensava J.P, desvairado.
Esperou a barata entrar num pequeno
armário velho de madeira que estava perto do lava-louças. Ele planejara tudo
direitinho, abriria a portinha e lá pegaria a barata e a comeria inteira de uma
só vez. E assim conheceria seu destino, sua vida... Conheceria sua identidade,
o sentido de sua existência. J.P estava determinado a mudar de vida...
Abriu a portinha do armário e... entrou em
completo desespero. Lá não tinha uma barata... No armário tinha inúmeras
baratas.
“Oh, não. Por que faz isso comigo vida,
logo agora... não posso comer tantas baratas, mas...”.
J.P decidiu cumprir o que o destino
oferecera-lhe, se no armário tinha cerca de quinze baratas era porque ele
deveria comer essa quantidade... J.P nunca entendeu a simbologia de seu livro
preferido... J.P levou a barata muito a sério e esqueceu-se do real sentido,
que ele não conhecia e não irá conhecer por ser superficial...
Então, com um determinismo assombroso, o
homem atacou as baratas e as comeu, uma por uma, sentindo aquele azedume com
gosto de fel em sua boca... Sentindo a ânsia se aproximar... Sentindo tudo se
aproximar de si, menos o desejado conhecimento... A tontura do espanto, do
nojo... J.P desmaiou.
No outro dia, quando acordou, não
lembrou-se, ou não quis lembrar-se de nada, a não ser que continuava com fome.
Lizandra Souza.
kkkkkkkkkk esse j.p é louco, comer 15 baratas kkkkkkkkk
ResponderExcluirUn Relato lleno de profundidad, arrebatador y de lucha por la existencia y supervivencia ante una impotencia adquirida por unos hábitos impuestos desde pequeño que han ensombrecido y determinado una forma de Vida y de conducta por la que ir caminando.
ResponderExcluirAbraços e Beijos.
¡¡¡Obrigado por Estar y Ser, siempre, en mi blog!!!
Eres un Encanto de Mujer.
kk oh god, como assim comer as baratas? eu achei que a barata ia pular da janela e ele ia junto rs.
ResponderExcluirbeijos